A Diego Raimundo dos Santos Silva, conhecido como TH Joias, e o presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ), Rodrigo Bacellar, foram presos em 3 de dezembro de 2025 no Rio de Janeiro por envolvimento em uma rede criminosa que ligava tráfico de drogas, corrupção, lavagem de dinheiro e a venda de armas para o Comando Vermelho. Mas o que chocou o país não foi apenas a gravidade dos crimes — foi o vídeo. Nele, TH Joias, em sua residência, abre um freezer cheio de carnes e diz, olhando para a câmera: "Tem como levar não, meu irmão". A frase, aparentemente simples, era um código. E Bacellar, que estava do outro lado da ligação, sabia exatamente o que isso significava.
As imagens de segurança, obtidas pela PF e divulgadas pelo RJ2, mostram o caminhão saindo da residência por volta das 22h. A operação de limpeza foi meticulosa. E o vídeo do freezer? Foi o clincher. "Tem como levar não, meu irmão" — essa frase, gravada em áudio e vídeo, não era sobre carne. Era sobre provas. Sobre o que não podia ser encontrado. Bacellar, que na época já era presidente da ALERJ, não apenas sabia da operação: ele a atrapalhou.
Essa discrepância foi um dos principais argumentos usados pelo ministro Alexandre de Moraes para justificar a prisão preventiva. Em sua decisão, ele escreveu: "Há fortes indícios de que o acusado atua ativamente pela obstrução de investigações envolvendo facção criminosa e ações contra o crime organizado, inclusive com influência no Poder Executivo Estadual". Ou seja: Bacellar não só ajudou a esconder provas — ele usou seu cargo para proteger uma rede criminosa.
Na véspera da prisão, TH Joias também enviou mensagens a outros aliados políticos. Um deles, um ex-assessor da ALERJ, foi preso em 5 de dezembro. Outro, ligado a um sindicato de caminhoneiros, foi interrogado por supostamente fornecer veículos para o transporte de provas. A rede era maior do que imaginavam.
Enquanto isso, a operação continua. A Operação Unha e CarneRio de Janeiro, que investiga o vazamento da Operação Zargun, já prendeu outros cinco envolvidos. E os investigadores acreditam que mais nomes virão — inclusive de servidores públicos que tiveram acesso aos dados sigilosos da PF.
"Isso aqui não é um caso isolado. É o que acontece todos os dias, só que em menor escala", disse uma analista política da UFRJ. "A população já não acredita mais que a política é um serviço público. Ela vê como um negócio. E quando o presidente da Assembleia está envolvido, o que resta?"
Na noite da prisão, um vizinho de TH Joias disse à polícia: "Eu vi ele entrando com caixas de carne. Pensei que fosse festa. Mas o freezer estava cheio de gelo. E o cheiro... não era de carne. Era de plástico queimado."
Naquele freezer, havia mais do que carne. Havia provas. E agora, com o vídeo, o mundo inteiro sabe.
A frase era um código entre TH Joias e Rodrigo Bacellar para indicar que os objetos removidos da residência — incluindo documentos, dinheiro e armas — não poderiam ser levados pela polícia. O freezer cheio de carnes era uma fachada para disfarçar a remoção de provas criminosas. A expressão "meu irmão" reforçava a relação de confiança e aliança entre os dois, sugerindo um vínculo além do político.
Investigações apontam que Bacellar tinha acesso a informações sigilosas da Polícia Federal por meio de contatos em órgãos de segurança estaduais e possivelmente por corrupção direta de agentes da PF. O vazamento ocorreu na tarde de 2 de setembro de 2025, horas antes da operação, permitindo que TH Joias destruísse evidências e fugisse temporariamente da prisão.
Em 2018, Bacellar declarou apenas R$ 85 mil em bens. Hoje, sua fortuna inclui imóveis na Barra da Tijuca, veículos importados e contas em bancos estrangeiros. A PF identificou transferências irregulares de empresas fictícias ligadas a TH Joias. Essa discrepância de mais de R$ 1 milhão em poucos anos é um dos principais indícios de lavagem de dinheiro no caso.
A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da ALERJ reuniu-se em 5 de dezembro de 2025 para analisar a manutenção da prisão de Bacellar. A decisão foi favorável à prisão, o que significa que ele perderá o foro privilegiado e poderá ser julgado pela Justiça comum. O processo de cassação de mandato já foi iniciado.
Além de TH Joias e Bacellar, cinco outras pessoas foram presas, incluindo um ex-assessor da ALERJ, um caminhoneiro que transportou provas e dois funcionários públicos com acesso a dados sigilosos da PF. A Operação Unha e Carne ainda investiga três empresas de fachada usadas para lavar dinheiro e um sindicato de caminhoneiros suspeito de facilitar o transporte de armas.
Sim. A PF comprovou que TH Joias intermediava a compra de armas de fogo para o Comando Vermelho, com financiamento proveniente do tráfico de drogas. Bacellar, por sua vez, teria protegido essas operações ao desviar investigações e alertar os envolvidos. A ligação entre políticos e facções criminosas já era suspeita — agora, é documentada.