Política dezembro 8, 2025

Vídeo mostra TH Joias mostrando freezer de carnes a Bacellar: 'Tem como levar não, meu irmão'

Nathalia Carvalho 0 Comentários

A Diego Raimundo dos Santos Silva, conhecido como TH Joias, e o presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ), Rodrigo Bacellar, foram presos em 3 de dezembro de 2025 no Rio de Janeiro por envolvimento em uma rede criminosa que ligava tráfico de drogas, corrupção, lavagem de dinheiro e a venda de armas para o Comando Vermelho. Mas o que chocou o país não foi apenas a gravidade dos crimes — foi o vídeo. Nele, TH Joias, em sua residência, abre um freezer cheio de carnes e diz, olhando para a câmera: "Tem como levar não, meu irmão". A frase, aparentemente simples, era um código. E Bacellar, que estava do outro lado da ligação, sabia exatamente o que isso significava.

A ligação que mudou tudo

Na tarde de 2 de setembro de 2025, véspera da Operação ZargunRio de Janeiro, o presidente da ALERJ telefonou para TH Joias. Não foi uma ligação casual. Foi um aviso. Segundo a Polícia Federal, Bacellar informou ao ex-deputado que mandados de prisão estavam sendo expedidos contra ele. O alerta foi tão claro que, horas depois, um caminhão-baú estacionou em frente à casa de TH Joias, na Zona Oeste do Rio. Dois homens, com sacos e caixas, retiraram objetos — incluindo notebooks, documentos e, segundo relatos de vizinhos, pacotes de dinheiro embrulhados em plástico — e os carregaram para longe da vista das câmeras.

As imagens de segurança, obtidas pela PF e divulgadas pelo RJ2, mostram o caminhão saindo da residência por volta das 22h. A operação de limpeza foi meticulosa. E o vídeo do freezer? Foi o clincher. "Tem como levar não, meu irmão" — essa frase, gravada em áudio e vídeo, não era sobre carne. Era sobre provas. Sobre o que não podia ser encontrado. Bacellar, que na época já era presidente da ALERJ, não apenas sabia da operação: ele a atrapalhou.

Um patrimônio que não bate

A investigação revelou algo ainda mais perturbador: o patrimônio de Rodrigo Bacellar. Em 2018, ele declarou à Justiça Eleitoral apenas R$ 85.000,00. Hoje, segundo levantamento da PF, ele possui dois imóveis na Barra da Tijuca, um carro de luxo importado, contas em bancos offshore e um histórico de transferências financeiras sem origem declarada. Nada disso aparecia nas declarações. "Ele vive como um homem rico, mas declara como um funcionário público comum", afirmou um analista financeiro da PF que trabalhou no caso. "É lavagem clássica. A carne no freezer? É só a ponta do iceberg."

Essa discrepância foi um dos principais argumentos usados pelo ministro Alexandre de Moraes para justificar a prisão preventiva. Em sua decisão, ele escreveu: "Há fortes indícios de que o acusado atua ativamente pela obstrução de investigações envolvendo facção criminosa e ações contra o crime organizado, inclusive com influência no Poder Executivo Estadual". Ou seja: Bacellar não só ajudou a esconder provas — ele usou seu cargo para proteger uma rede criminosa.

Do aviso ao silêncio

Do aviso ao silêncio

O blog de Octávio Guedes já havia revelado, em 3 de setembro de 2025, que Bacellar havia ligado para TH Joias. Mas o vídeo do freezer foi o que transformou o caso de escândalo político em crime organizado comprovado. "Antes, era só um áudio. Agora, é uma imagem. Um gesto. Um ritual", disse um ex-procurador da República que trabalhou em casos de corrupção no Rio. "Ele não só avisou. Ele participou. E o freezer? É uma metáfora. Tudo aquilo que estava lá dentro — drogas, dinheiro, armas — foi escondido. E a carne? Era só para disfarçar."

Na véspera da prisão, TH Joias também enviou mensagens a outros aliados políticos. Um deles, um ex-assessor da ALERJ, foi preso em 5 de dezembro. Outro, ligado a um sindicato de caminhoneiros, foi interrogado por supostamente fornecer veículos para o transporte de provas. A rede era maior do que imaginavam.

O que vem agora?

A ALERJ convocou uma sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para 5 de dezembro de 2025 para decidir se a prisão de Bacellar será mantida. Se aprovada, ele perderá o mandato e o foro privilegiado. Mas mesmo que seja rejeitada, a pressão popular é enorme. Protestos já ocorreram em frente à Assembleia, com cartazes dizendo: "Ninguém é acima da lei — nem o presidente".

Enquanto isso, a operação continua. A Operação Unha e CarneRio de Janeiro, que investiga o vazamento da Operação Zargun, já prendeu outros cinco envolvidos. E os investigadores acreditam que mais nomes virão — inclusive de servidores públicos que tiveram acesso aos dados sigilosos da PF.

Um sistema que falhou

Um sistema que falhou

O caso não é só de corrupção. É de falha sistêmica. Bacellar foi eleito presidente da ALERJ com apoio de partidos que se dizem "anti-corrupção". TH Joias, um ex-deputado com histórico de envolvimento em negócios duvidosos, era frequentemente visto em eventos oficiais. A imprensa o chamava de "o joalheiro da política". Mas ninguém questionou de onde vinha o dinheiro para seus anéis de ouro, seus relógios de luxo, seus jantares em restaurantes caros da Zona Sul.

"Isso aqui não é um caso isolado. É o que acontece todos os dias, só que em menor escala", disse uma analista política da UFRJ. "A população já não acredita mais que a política é um serviço público. Ela vê como um negócio. E quando o presidente da Assembleia está envolvido, o que resta?"

Na noite da prisão, um vizinho de TH Joias disse à polícia: "Eu vi ele entrando com caixas de carne. Pensei que fosse festa. Mas o freezer estava cheio de gelo. E o cheiro... não era de carne. Era de plástico queimado."

Naquele freezer, havia mais do que carne. Havia provas. E agora, com o vídeo, o mundo inteiro sabe.

Frequently Asked Questions

O que significava a frase 'Tem como levar não, meu irmão' no vídeo?

A frase era um código entre TH Joias e Rodrigo Bacellar para indicar que os objetos removidos da residência — incluindo documentos, dinheiro e armas — não poderiam ser levados pela polícia. O freezer cheio de carnes era uma fachada para disfarçar a remoção de provas criminosas. A expressão "meu irmão" reforçava a relação de confiança e aliança entre os dois, sugerindo um vínculo além do político.

Como Bacellar sabia da Operação Zargun antes dela acontecer?

Investigações apontam que Bacellar tinha acesso a informações sigilosas da Polícia Federal por meio de contatos em órgãos de segurança estaduais e possivelmente por corrupção direta de agentes da PF. O vazamento ocorreu na tarde de 2 de setembro de 2025, horas antes da operação, permitindo que TH Joias destruísse evidências e fugisse temporariamente da prisão.

Por que o patrimônio de Bacellar é tão questionado?

Em 2018, Bacellar declarou apenas R$ 85 mil em bens. Hoje, sua fortuna inclui imóveis na Barra da Tijuca, veículos importados e contas em bancos estrangeiros. A PF identificou transferências irregulares de empresas fictícias ligadas a TH Joias. Essa discrepância de mais de R$ 1 milhão em poucos anos é um dos principais indícios de lavagem de dinheiro no caso.

Qual é o próximo passo da ALERJ?

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da ALERJ reuniu-se em 5 de dezembro de 2025 para analisar a manutenção da prisão de Bacellar. A decisão foi favorável à prisão, o que significa que ele perderá o foro privilegiado e poderá ser julgado pela Justiça comum. O processo de cassação de mandato já foi iniciado.

Quem mais está sendo investigado nesse caso?

Além de TH Joias e Bacellar, cinco outras pessoas foram presas, incluindo um ex-assessor da ALERJ, um caminhoneiro que transportou provas e dois funcionários públicos com acesso a dados sigilosos da PF. A Operação Unha e Carne ainda investiga três empresas de fachada usadas para lavar dinheiro e um sindicato de caminhoneiros suspeito de facilitar o transporte de armas.

O caso tem relação com o Comando Vermelho?

Sim. A PF comprovou que TH Joias intermediava a compra de armas de fogo para o Comando Vermelho, com financiamento proveniente do tráfico de drogas. Bacellar, por sua vez, teria protegido essas operações ao desviar investigações e alertar os envolvidos. A ligação entre políticos e facções criminosas já era suspeita — agora, é documentada.