A menos de um mês da final da Copa Libertadores 2025Estadio Monumental, em Lima, a CONMEBOL enfrenta seu maior desafio logístico dos últimos anos. O estádio, sede do clube Club Universitario de Deportes, foi escolhido em março de 2024 — mas agora, com o Peru em estado de emergência nacional desde 28 de outubro, tudo pode mudar. O governo interino, liderado por José Jerí, decretou militarização das ruas, proibição de motocicletas e banimento de reuniões públicas. Afinal, como garantir a segurança de mais de 80 mil torcedores, jogadores e equipes técnicas em meio a um cenário de caos político?
"A militarização de Lima e as restrições de mobilidade podem afetar não só a final da Libertadores, mas todos os eventos esportivos no país", alertou Carlos González, diretor de segurança da CONMEBOL. A memória recente é pesada: em 2019, a final da Libertadores foi transferida de Santiago do Chile para Lima por causa de protestos. Na época, Alejandro Domínguez, presidente da entidade, disse: "A segurança não é negociável". Agora, ele volta a repetir a mesma frase — mas desta vez, em um país que, por ironia, foi a solução da crise anterior.
A CONMEBOL tem até 7 de novembro para decidir. Depois disso, qualquer mudança de sede exige 22 dias úteis para reorganizar logística, bilheteria, transporte e segurança. Cada dia de atraso custa US$ 1,2 milhão — um valor que já soma mais de US$ 7 milhões se a decisão for tomada na última hora. "É dinheiro que poderia ser usado para melhorar os estádios da América do Sul", disse Ricardo Fernández, diretor financeiro da entidade. "Mas se algo der errado, o prejuízo será muito maior".
A CONMEBOL também considera o estádio do Independiente, em Avellaneda, e o Nacional, em Montevidéu, mas ambas as opções exigiriam reformas urgentes. "Não podemos correr riscos com instalações que não estejam 100% prontas", explicou um membro da comissão técnica sob condição de anonimato. "A final da Libertadores é o maior evento do futebol sul-americano. Milhões de pessoas assistem. Não é só um jogo — é um símbolo".
Além disso, o caso coloca em xeque a capacidade da CONMEBOL de escolher sedes em países instáveis. Se a entidade mantiver Lima, corre o risco de um incidente grave. Se mudar, envia um recado: "não confiamos na estabilidade política da região". E isso pode impactar futuras decisões de sede para Copas do Mundo, Jogos Pan-Americanos e até a Copa América 2027.
Adiar a final não é viável porque o calendário da CONMEBOL está apertado: a final da Copa Sul-Americana ocorre em 13 de dezembro, e os clubes já têm compromissos com ligas nacionais e jogos de classificação para a próxima edição da Libertadores. Além disso, os contratos de transmissão e patrocínio têm prazos rígidos — qualquer mudança desencadeia multas milionárias.
A decisão final é do Conselho da CONMEBOL, presidido por Alejandro Domínguez, mas exige aprovação de pelo menos dois terços dos presidentes das 10 federações nacionais. A Federação Peruana de Futebol tem direito a voto, mas não pode bloquear a mudança sozinha. A pressão dos clubes e das emissoras de TV também pesa muito nesse processo.
Se a final for mantida em Lima, a CONMEBOL imporá regras rígidas: apenas torcedores com identificação oficial e ingresso validado poderão entrar. A entrada de estrangeiros será monitorada por agentes da polícia peruana e da própria entidade. A segurança será reforçada por equipes da Interpol e da FIFA, mas ainda assim, o risco de distúrbios ou bloqueios de acesso permanece alto — e isso pode afetar a transmissão ao vivo.
Sim. Em 2019, a final da Libertadores foi transferida de Santiago do Chile para Lima por causa das manifestações. Em 2020, a Copa América foi remarcada por causa da pandemia. E em 2014, a final da Sul-Americana foi movida de La Paz para Buenos Aires por causa de uma crise de saúde pública. A CONMEBOL já tem protocolos para isso — mas nunca em um país que já foi sede de uma final anterior, como é o caso do Peru.
A CONMEBOL anunciou que qualquer mudança será comunicada oficialmente em seu site e redes sociais até 7 de novembro. Torcedores que já compraram ingressos em Lima terão direito a reembolso integral ou troca para o novo local. A entidade também está criando um canal de atendimento em português, espanhol e inglês para esclarecer dúvidas, já que o evento atrai milhões de fãs de todos os países da América do Sul.
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9 Comentários
Leandro Fialho outubro 30, 2025 AT 22:49
Se a CONMEBOL deixar a final em Lima, vai ser um desastre. Mas se mudar, o Peru perde uma chance histórica de mostrar que pode se recuperar. A gente não pode só fugir dos problemas, tem que ajudar a resolver.
Esse é o futebol, não um jogo de xadrez político.
Eduardo Mallmann novembro 1, 2025 AT 08:39
É imprescindível que a CONMEBOL adote uma postura ética e institucionalmente responsável diante de um cenário de emergência nacional, cuja gravidade transcende o âmbito esportivo. A segurança da vida humana é um valor inegociável, e qualquer decisão que priorize o lucro sobre a integridade física dos cidadãos configura uma falha moral de proporções históricas.
Timothy Gill novembro 1, 2025 AT 19:49
Lima não é o problema o problema é a América Latina inteira acha que futebol é política e política é futebol mas na verdade é só um jogo que virou um espelho da nossa desorganização
David Costa novembro 3, 2025 AT 12:35
É fascinante observar como o futebol, enquanto fenômeno cultural e econômico, se tornou o termômetro da instabilidade política na região. A final da Libertadores não é apenas um confronto entre clubes - é um ritual coletivo que reflete as tensões estruturais de uma América do Sul em crise de identidade e governança. O fato de que a CONMEBOL precise escolher entre dois países que já foram soluções para crises anteriores revela uma circularidade trágica da história regional: a mesma terra que acolhe hoje, talvez rejeite amanhã.
Willian de Andrade novembro 5, 2025 AT 03:49
sera que da pra fazer a final no maracana? tipo o brasil ta tranquilo e tem estrutura pra isso
Thiago Silva novembro 6, 2025 AT 13:05
Eu tô torcendo pra ficar em Lima, não por patriotismo, mas porque acho que o povo peruano merece esse momento. Se a gente fugir sempre que a política aperta, a gente nunca aprende a conviver com o caos. O futebol tem que ser um abrigo, não uma fuga.
Sandra Blanco novembro 6, 2025 AT 23:09
Isso é irresponsabilidade. Não se pode colocar vidas em risco só para fazer um jogo. Se o governo está mandando soldados para a rua, é porque é perigoso. Ponto final.
Willian Paixão novembro 7, 2025 AT 01:01
Se a CONMEBOL transferir pra Rio ou Buenos Aires, não é fraqueza, é sabedoria. A gente pode ajudar o Peru sem precisar colocar gente em risco. O futebol une, mas não pode ser motivo de tragédia.
Bruna Oliveira novembro 7, 2025 AT 05:12
Lima? Sério? Depois de tudo que aconteceu? Isso é como fazer um casamento no meio de um furacão. A CONMEBOL tá correndo risco de se tornar piada global. Afinal, quem vai querer assistir a uma final onde o estádio tem mais polícia que torcedores?