Quando María Corina Machado Parisca, líder da oposição venezuelana e engenheira industrial, foi anunciada como vencedora do Prêmio Nobel da Paz 2025, o mundo inteiro parou para ouvir. O anúncio caiu em , às 11h00 (horário da Europa Central), pelo Comitê Nobel da Noruega, sediado em Oslo, Noruega. Machado foi premiada "por seu incansável trabalho promovendo direitos democráticos para o povo venezuelano e por sua luta por uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia".
A Venezuela, que nos últimos três décadas passou de uma das economias mais prósperas da América Latina a um estado autoritário, vê cerca de 7,998,000 de seus cidadãos forçados a fugir do país, segundo o próprio Comitê Nobel. Caracas – capital onde a crise se sente com mais força – se transformou em palco de protestos, revisões eleitorais manipuladas e repressão brutal.
Especialistas apontam que a erosão institucional começou após a eleição de Hugo Chávez em 1998, intensificando-se sob o governo de Nicolás Maduro, que assume o poder em 2013. A escassez de bens básicos, a hiperinflação e a censura da mídia criaram um clima de desesperança, mas também alimentaram movimentos de resistência civil.
Machado nasceu em em Caracas. Formada em engenharia industrial pela Universidad Católica Andrés Bello, ela fundou, aos 25 anos, a Fundação Atenea, focada em crianças de rua. Em 2002, co‑fundou a organização cívica Súmate Ciudadano, que passou a monitorar eleições e a educar eleitores.
Eleita para a Assembleia Nacional em 2010 com 815,515 votos, Machado foi destituída em 2014 pelo governo de Maduro, sob a acusação de suposta subversão. Desde então, lidera o partido Vente Venezuela e co‑fundou a aliança Soy Venezuela em 2017, reunindo forças pró‑democracia.
Em 2023, anunciou sua candidatura à presidência nas eleições de 2024, mas foi impedida de registrar a candidatura por decisões arbitrárias do tribunal eleitoral. Mesmo bloqueada, fez campanha para Edmundo González Urrutia, candidato alternativo da oposição, na disputa de julho de 2024.
O Prêmio Nobel da Paz 2025Oslo foi entregue numa cerimônia solene no Teatro Oslo. Em comunicado, o Comitê Nobel destacou que Machado "cumpre todos os três critérios estabelecidos no testamento de Alfred Nobel" e que sua luta "coloca a democracia como base da paz tanto dentro como entre as nações".
Na sua declaração de aceitação, publicada na rede X, Machado dedicou o prêmio "ao povo sofrido da Venezuela" e "ao presidente Trump por seu apoio decisivo à nossa causa" – referência que gerou fortes reações nos círculos diplomáticos dos EUA. Já o Inspira América Foundation, liderada por Marcel Felipe, havia apresentado a candidatura de Machado em agosto de 2024, contando com o apoio de reitores de quatro universidades americanas.
Governos europeus, o Congresso dos EUA e a ONU emitiram pronunciamentos congratulando a escolha e pedindo ao governo de Maduro que "respeite os direitos humanos e abra espaço para o diálogo democrático".
Em Caracas, a notícia provocou manifestações espontâneas nas principais avenidas. Grupos de jovens, alguns ainda protegidos por anonimato nas redes sociais, carregavam cartazes com a imagem de Machado e a frase "Venezuela merece paz". Por outro lado, autoridades pró‑Maduro anunciaram que vão "reavaliar as sanções internacionais" e acusaram a imprensa internacional de "instrumentalizar o Nobel para desestabilizar o país".
Machado, católica e divorciada, tem três filhos que vivem no exterior por temer retaliações. Em entrevista ao DW, o jornalista Oscar Shanker descreveu‑a como "um símbolo real de resistência pacífica na América Latina", ressaltando seu histórico de engenharia que "trouxe um olhar analítico à política".
Organizações de direitos humanos relataram um aumento de intimidações contra ativistas que se manifestam a favor do prêmio, porém também observaram um fortalecimento da rede de solidariedade entre opositores, que agora contam com maior visibilidade internacional.
Analistas políticos da Universidade de Harvard apontam que o Nobel pode servir como alavanca para novas sanções econômicas contra o regime de Maduro, bem como para abrir canais diplomáticos de negociação. Já o think‑tank Carnegie Endowment alerta que o prêmio, embora simbólico, não garante mudanças imediatas e que "a pressão deve ser sustentada por ações concretas de governos e organizações internacionais".
Para a própria Machado, o reconhecimento internacional reforça sua missão: "Continuarei lutando por eleições livres, por liberdade de expressão e por um futuro onde os venezuelanos possam viver sem medo". Ela pretende usar o dinheiro do prêmio, de 1,2 milhão de dólares, para financiar programas de educação cívica e apoio a famílias deslocadas.
Enquanto isso, o Comitê Nobel reiterou que a democracia está "em retrocesso em todo o mundo" e que a escolha de Machado serve como lembrete de que "a paz só é possível quando os povos têm voz e voto".
O prêmio coloca a causa venezuelana em evidência internacional, o que costuma intensificar pressões diplomáticas e econômicas sobre o regime. Historicamente, laureados têm conseguido atrair investimentos em negociações de paz e abrir espaço para diálogos que antes eram impossíveis.
O comunicado citou o Nicolás Maduro como o responsável pela crise, além do candidato opositor Edmundo González Urrutia. Também foram referenciadas a Inspira América Foundation e a Comitê Nobel da Noruega.
O Nobel inclui uma bolsa de 1,2 milhão de dólares. Machado anunciou que parte será destinada a projetos de educação cívica e apoio a famílias deslocadas, fortalecendo a infraestrutura da sociedade civil que já atua em áreas como saúde e assistência social.
Segundo a professora de ciência política da Universidade de Columbia, Ana María Torres, a pressão internacional gerada pelo Nobel pode criar condições para um pacto de transição, mas ainda depende da vontade do governo Maduro de abrir espaço para observadores externos.
Em Caracas, manifestações espontâneas surgiram nas principais avenidas, com cartazes e cantos em apoio a Machado. Nas redes sociais, hashtags como #VenezuelaMerecePaz ganharam milhões de visualizações, mostrando um clima de esperança, ainda que acompanhado de temores de repressão.
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1 Comentários
Luciano Pinheiro outubro 11, 2025 AT 00:36
É incrível ver como a história reconhece quem luta pelos direitos humanos. O Nobel para Machado traz esperança para milhões que sofrem na Venezuela. Além de simbolizar resistência, ele pode abrir portas diplomáticas. Continuemos a apoiar esses movimentos, mesmo à distância.