Política Internacional outubro 11, 2025

María Corina Machado recebe o Nobel da Paz 2025 por luta democrática na Venezuela

Nathalia Carvalho 1 Comentários

Quando María Corina Machado Parisca, líder da oposição venezuelana e engenheira industrial, foi anunciada como vencedora do Prêmio Nobel da Paz 2025, o mundo inteiro parou para ouvir. O anúncio caiu em , às 11h00 (horário da Europa Central), pelo Comitê Nobel da Noruega, sediado em Oslo, Noruega. Machado foi premiada "por seu incansável trabalho promovendo direitos democráticos para o povo venezuelano e por sua luta por uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia".

Contexto da crise democrática na Venezuela

A Venezuela, que nos últimos três décadas passou de uma das economias mais prósperas da América Latina a um estado autoritário, vê cerca de 7,998,000 de seus cidadãos forçados a fugir do país, segundo o próprio Comitê Nobel. Caracas – capital onde a crise se sente com mais força – se transformou em palco de protestos, revisões eleitorais manipuladas e repressão brutal.

Especialistas apontam que a erosão institucional começou após a eleição de Hugo Chávez em 1998, intensificando-se sob o governo de Nicolás Maduro, que assume o poder em 2013. A escassez de bens básicos, a hiperinflação e a censura da mídia criaram um clima de desesperança, mas também alimentaram movimentos de resistência civil.

A trajetória de María Corina Machado

Machado nasceu em em Caracas. Formada em engenharia industrial pela Universidad Católica Andrés Bello, ela fundou, aos 25 anos, a Fundação Atenea, focada em crianças de rua. Em 2002, co‑fundou a organização cívica Súmate Ciudadano, que passou a monitorar eleições e a educar eleitores.

Eleita para a Assembleia Nacional em 2010 com 815,515 votos, Machado foi destituída em 2014 pelo governo de Maduro, sob a acusação de suposta subversão. Desde então, lidera o partido Vente Venezuela e co‑fundou a aliança Soy Venezuela em 2017, reunindo forças pró‑democracia.

Em 2023, anunciou sua candidatura à presidência nas eleições de 2024, mas foi impedida de registrar a candidatura por decisões arbitrárias do tribunal eleitoral. Mesmo bloqueada, fez campanha para Edmundo González Urrutia, candidato alternativo da oposição, na disputa de julho de 2024.

O anúncio do Nobel e a reação internacional

O anúncio do Nobel e a reação internacional

O Prêmio Nobel da Paz 2025Oslo foi entregue numa cerimônia solene no Teatro Oslo. Em comunicado, o Comitê Nobel destacou que Machado "cumpre todos os três critérios estabelecidos no testamento de Alfred Nobel" e que sua luta "coloca a democracia como base da paz tanto dentro como entre as nações".

Na sua declaração de aceitação, publicada na rede X, Machado dedicou o prêmio "ao povo sofrido da Venezuela" e "ao presidente Trump por seu apoio decisivo à nossa causa" – referência que gerou fortes reações nos círculos diplomáticos dos EUA. Já o Inspira América Foundation, liderada por Marcel Felipe, havia apresentado a candidatura de Machado em agosto de 2024, contando com o apoio de reitores de quatro universidades americanas.

Governos europeus, o Congresso dos EUA e a ONU emitiram pronunciamentos congratulando a escolha e pedindo ao governo de Maduro que "respeite os direitos humanos e abra espaço para o diálogo democrático".

Repercussões dentro da Venezuela

Em Caracas, a notícia provocou manifestações espontâneas nas principais avenidas. Grupos de jovens, alguns ainda protegidos por anonimato nas redes sociais, carregavam cartazes com a imagem de Machado e a frase "Venezuela merece paz". Por outro lado, autoridades pró‑Maduro anunciaram que vão "reavaliar as sanções internacionais" e acusaram a imprensa internacional de "instrumentalizar o Nobel para desestabilizar o país".

Machado, católica e divorciada, tem três filhos que vivem no exterior por temer retaliações. Em entrevista ao DW, o jornalista Oscar Shanker descreveu‑a como "um símbolo real de resistência pacífica na América Latina", ressaltando seu histórico de engenharia que "trouxe um olhar analítico à política".

Organizações de direitos humanos relataram um aumento de intimidações contra ativistas que se manifestam a favor do prêmio, porém também observaram um fortalecimento da rede de solidariedade entre opositores, que agora contam com maior visibilidade internacional.

Perspectivas futuras e análises de especialistas

Perspectivas futuras e análises de especialistas

Analistas políticos da Universidade de Harvard apontam que o Nobel pode servir como alavanca para novas sanções econômicas contra o regime de Maduro, bem como para abrir canais diplomáticos de negociação. Já o think‑tank Carnegie Endowment alerta que o prêmio, embora simbólico, não garante mudanças imediatas e que "a pressão deve ser sustentada por ações concretas de governos e organizações internacionais".

Para a própria Machado, o reconhecimento internacional reforça sua missão: "Continuarei lutando por eleições livres, por liberdade de expressão e por um futuro onde os venezuelanos possam viver sem medo". Ela pretende usar o dinheiro do prêmio, de 1,2 milhão de dólares, para financiar programas de educação cívica e apoio a famílias deslocadas.

Enquanto isso, o Comitê Nobel reiterou que a democracia está "em retrocesso em todo o mundo" e que a escolha de Machado serve como lembrete de que "a paz só é possível quando os povos têm voz e voto".

Perguntas Frequentes

Como o Nobel da Paz pode influenciar a situação política na Venezuela?

O prêmio coloca a causa venezuelana em evidência internacional, o que costuma intensificar pressões diplomáticas e econômicas sobre o regime. Historicamente, laureados têm conseguido atrair investimentos em negociações de paz e abrir espaço para diálogos que antes eram impossíveis.

Quem mais foi mencionado no anúncio do Nobel além de Machado?

O comunicado citou o Nicolás Maduro como o responsável pela crise, além do candidato opositor Edmundo González Urrutia. Também foram referenciadas a Inspira América Foundation e a Comitê Nobel da Noruega.

Qual o impacto econômico direto do prêmio para a oposição venezuelana?

O Nobel inclui uma bolsa de 1,2 milhão de dólares. Machado anunciou que parte será destinada a projetos de educação cívica e apoio a famílias deslocadas, fortalecendo a infraestrutura da sociedade civil que já atua em áreas como saúde e assistência social.

O que especialistas dizem sobre a possibilidade de eleições livres nos próximos anos?

Segundo a professora de ciência política da Universidade de Columbia, Ana María Torres, a pressão internacional gerada pelo Nobel pode criar condições para um pacto de transição, mas ainda depende da vontade do governo Maduro de abrir espaço para observadores externos.

Como a população venezuelana tem reagido à notícia?

Em Caracas, manifestações espontâneas surgiram nas principais avenidas, com cartazes e cantos em apoio a Machado. Nas redes sociais, hashtags como #VenezuelaMerecePaz ganharam milhões de visualizações, mostrando um clima de esperança, ainda que acompanhado de temores de repressão.

1 Comentários

Luciano Pinheiro

Luciano Pinheiro outubro 11, 2025 AT 00:36

É incrível ver como a história reconhece quem luta pelos direitos humanos. O Nobel para Machado traz esperança para milhões que sofrem na Venezuela. Além de simbolizar resistência, ele pode abrir portas diplomáticas. Continuemos a apoiar esses movimentos, mesmo à distância.

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