Na tarde de domingo, 14 de dezembro de 2025, o Manchester City desembarcou em Selhurst Park com fome de vitória — e saiu com uma goleada que acendeu o sinal de alerta na corrida pelo título da Premier League. Com dois gols de Erling Haaland e um de Phil Foden, o time de Pep Guardiola venceu o Crystal Palace por 3 a 0, reduzindo a diferença para o líder Arsenal para apenas dois pontos. O resultado, que chegou exatamente 211 dias após a derrota na final da Copa da Inglaterra, não foi só um revanche: foi uma mensagem.
Na final da Copa da Inglaterra, em maio de 2025, o goleiro Dean Henderson havia salvado uma penalidade de Haaland, levando o Crystal Palace à vitória e deixando o norueguês com o rosto molhado de frustração. Naquela noite, o gol de Haaland parecia impossível. Nesta tarde, ele não só marcou — como fez isso de forma implacável. Na 41ª minute, após um cruzamento perfeito de Matheus Nunes, Haaland saltou como um furacão e cabeceou para o canto superior. Nada de acidente. Foi precisão pura.
Na segunda metade, a pressão aumentou. O Crystal Palace tentou reagir, mas os postes pareciam aliados do City: Yeremy Pino e Adam Wharton acertaram a trave em chances claras. Enquanto isso, o goleiro italiano Gianluigi Donnarumma — que começou no lugar de Ederson — fez pelo menos uma defesa crucial contra Eddie Nketiah, mantendo o placar limpo.
Se Haaland foi o herói da noite, Foden foi o artista. Na 62ª, após uma arrancada deslumbrante de Rayan Cherki, o inglês de 25 anos soltou uma bomba de fora da área. A bola desviou, girou, e entrou como um tiro de canhão. Era o sétimo gol dele em cinco jogos consecutivos. Um feito raro — e assustador para os rivais.
Ele não parou por aí. Quase marcou o quarto no final, mas seu chute aéreo passou por cima da trave. “Foden está em uma onda que lembra o melhor Messi em 2012”, disse um analista da Sky Sports no intervalo. E não era exagero. O técnico da seleção inglesa, Thomas Tuchel, estava no estádio — observando. Com a Copa do Mundo de 2026 se aproximando, o alemão precisa decidir quem será o número 10. Foden, hoje, parece a resposta mais clara.
Na 69ª, o jogo foi selado. O jovem brasileiro Savinho, recém-entrado, foi derrubado por Henderson dentro da área. O árbitro apontou o pênalti. E ali, no centro da área, Haaland voltou. Não para desafiar o goleiro — mas para humilhá-lo. Cobrou com calma, no mesmo canto onde Henderson o havia defendido em maio. O goleiro se jogou, mas a bola já estava no fundo da rede. Um gesto de justiça poética. Um gol que não era só de pontos: era de alma.
Antes do jogo, o Arsenal liderava com 36 pontos. O City, com 34, estava atrás — mas não desistiu. Agora, com 11 vitórias, 1 empate e 4 derrotas em 16 jogos, o time de Guardiola tem o melhor saldo de gols da liga: +22. Enquanto isso, o Crystal Palace, com 26 pontos, caiu para o 10º lugar, perdendo contato com a zona de classificação para a Europa. A diferença entre o primeiro e o segundo é de apenas dois pontos — e os dois jogos contra o Chelsea e o Liverpool ainda estão por vir.
Guardiola, que agora tem 11 jogos sem perder contra o Palace, sorriu após o apito final. “Não pensamos em revanche”, disse ele. “Pensamos em continuar crescendo.” Mas todos sabem: essa vitória foi mais que um jogo. Foi o momento em que a corrida pelo título voltou a ser real.
Na próxima rodada, o Manchester City recebe o Chelsea no Etihad, enquanto o Arsenal viaja até o Tottenham. Um empate do City e uma derrota do Arsenal podem colocar os campeões em cima da tabela — e o clima no vestiário da equipe de Guardiola já está diferente. Os jogadores cantam no ônibus. Os torcedores já começam a desenhar cartazes com a data da final: 24 de maio de 2026.
Enquanto isso, o Crystal Palace tenta se recuperar. Mas o que se viu em Selhurst Park foi mais que um jogo perdido. Foi o fim de um ciclo. O time de Patrick Vieira, que brilhou na Copa da Inglaterra, agora enfrenta uma crise de confiança. E o fato de ter perdido por 3 a 0 — sem criar chances reais — assusta mais do que qualquer derrota por 4 a 2.
Haaland transformou a frustração em foco. Depois de ser defendido por Dean Henderson na final, ele passou semanas treinando cobranças de pênalti com o técnico de gols. O gol contra o Palace foi o primeiro que ele marcou de pênalti na Premier League esta temporada — e o mais simbólico. Ele não apenas superou a derrota, como a usou como combustível.
Foden está em sua melhor fase desde 2022. Com sete gols em cinco jogos, ele demonstra versatilidade, visão de jogo e frieza. Thomas Tuchel o vê como o único jogador inglês capaz de comandar o meio-campo ofensivo em um torneio de alto nível. Se ele continuar assim, será o primeiro inglês a liderar a equipe na Copa do Mundo desde Rooney em 2014.
O Manchester City tem +22, enquanto o Arsenal tem +20. Isso significa que, se ambos terminarem empatados em pontos, o City vence por critério de desempate. Em uma liga tão equilibrada, esse detalhe pode ser decisivo. Em 2023, o City venceu a Premier League exatamente por isso — e agora, a mesma vantagem pode repetir-se.
A vitória em Wembley criou expectativas irreais. O time não reforçou o elenco no mercado de inverno e sofre com lesões nos laterais. Além disso, a pressão psicológica de enfrentar times como City e Liverpool com a consciência de que “já vencemos o maior” está pesando. O técnico Vieira admite que o time está “em crise de identidade”.
O próximo teste é contra o Chelsea, no Etihad, em 21 de dezembro. O time de Enzo Maresca vem em alta, com 4 vitórias seguidas. Mas o verdadeiro desafio será manter o ritmo durante o calendário apertado de Natal e Ano Novo, quando o City terá quatro jogos em 12 dias — e Haaland, que já marcou 19 gols nesta temporada, precisa evitar lesões.
Guardiola nunca perdeu para o Palace em 11 confrontos na Premier League — e agora soma 9 vitórias e 2 empates. É a maior sequência invicta de um técnico contra um único adversário na história da liga. O recorde anterior era de Sir Alex Ferguson contra o Sunderland, com 10 jogos. Guardiola já passou. E não parece estar nem perto de parar.