Esportes agosto 28, 2025

Marcos Leonardo admite erro por indisciplina e revela desejo de voltar ao Santos

Nathalia Carvalho 0 Comentários

Arrependimento, aprendizado e a marca de um episódio em meio ao rebaixamento

Um atraso em um dos momentos mais tensos da temporada virou ponto de virada na carreira de Marcos Leonardo. O atacante, revelado pelo Santos e hoje no Al-Hilal, da Arábia Saudita, admitiu que errou ao chegar depois do horário ao CT Rei Pelé, no fim de 2023, quando o clube travava a luta contra o rebaixamento. Na época, ele e o meio-campista Jean Lucas foram multados e afastados do elenco por indisciplina na véspera de uma viagem a Curitiba.

Em entrevista ao ge, o jogador de 22 anos foi direto: se pudesse, faria tudo diferente. Disse que o episódio foi um aprendizado duro e que não pretende repetir a falha. O momento era delicado. O Santos vivia dias de pressão, estádios cheios de tensão e placares que valiam a permanência na Série A. A punição, aplicada de imediato, teve efeito no campo: os dois perderam a vaga no time para o jogo da penúltima rodada, contra o Athletico-PR.

O ambiente, já pesado, ficou ainda mais carregado. Parte da torcida viu no atraso um símbolo do descontrole de um elenco sob estresse contínuo. O clube, por sua vez, reforçou a disciplina interna com multa e corte na lista de relacionados. Não foi um episódio isolado no futebol brasileiro, mas dentro de um contexto de risco esportivo — e com a história do Santos em jogo —, a repercussão foi maior.

Marcos não detalhou bastidores, preferiu reconhecer a responsabilidade. Falou como quem olha pelo retrovisor de uma fase turbulenta. O recado foi simples: era jovem, errou, aprendeu. Isso não elimina as consequências esportivas daquele fim de campeonato, mas ajuda a explicar por que o próprio atleta trata o caso como um divisor de águas na sua trajetória.

Para quem vive o dia a dia do futebol, atrasos e códigos de conduta fazem parte do manual. Times definem janelas de tolerância, aplicam multas progressivas e, em jogos-chave, costumam reforçar a mão. Em momentos de risco — como briga contra o rebaixamento —, a régua fica ainda mais rígida. Naquele Santos, pressionado e fragmentado por resultados, aplicar a sanção foi um recado coletivo: a regra valia para todos.

O rebaixamento no fim de 2023, o primeiro da história santista, transformou qualquer deslize em ferida aberta. O episódio com Marcos e Jean Lucas virou um dos capítulos de uma temporada marcada por trocas de técnico, partidas dramáticas e nervos à flor da pele. Dentro do clube, a ordem após a queda foi virar a chave, reorganizar a casa e recalibrar processos. Para o atacante, foi encarar as próprias escolhas — e amadurecer.

Boa fase no exterior e o aceno de um retorno ao clube que o formou

Boa fase no exterior e o aceno de um retorno ao clube que o formou

Desde que deixou o Brasil, a curva de desempenho de Marcos mudou. No Al-Hilal, ele ganhou espaço, ritmo e confiança. Chamou atenção no Mundial de Clubes com gols em jogos grandes e terminou o torneio como uma das referências ofensivas da equipe. Em campo, mostrou repertório: presença diária na área, leitura rápida de espaço curto e faro para atacar o segundo pau — características que já apareciam na base e foram lapidadas no profissional.

O salto técnico veio acompanhado de algo que ele próprio destaca: mais maturidade. Jogadores nessa faixa etária costumam atravessar um choque de realidade quando saem da formação para o mundo profissional. A cadência muda, a margem para erro diminui e a cobrança dobra. Em ligas estrangeiras, a rotina é intensa: viagens longas, calendário sem respiro, adversários físicos. Marcos soube se adaptar e transformar a fase em plataforma de evolução.

No Al-Hilal, a concorrência por vaga é pesada. O time investe em elencos fortes e cobra números altos de gols e participações. A resposta de Marcos foi produtiva, a ponto de se tornar peça importante em mata-matas. Internamente, isso aumenta a confiança do técnico e abre caminho para minutos em jogos decisivos. Externamente, reforça a imagem de um atleta que saiu do Brasil pressionado e reencontrou a trilha.

Quando olha para o futuro, o atacante não esconde a vontade de voltar ao Santos em algum momento. A ligação emocional é óbvia: formação no clube, gols importantes na base e no profissional, identificação com a torcida. O timing, porém, envolve variáveis. Contrato, janela de transferências, prioridades do clube saudita e, claro, o projeto esportivo do próprio Santos. Um retorno raramente é simples — muitas vezes exige empréstimo, negociação tripla e ajuste salarial. Ainda assim, a intenção pública do jogador abre uma porta para conversas futuras.

Do lado do Santos, qualquer possibilidade de repatriar um atleta criado em casa passa por avaliação técnica e financeira. Clubes que estão se reestruturando tendem a priorizar elenco enxuto, folha salarial sob controle e perfis com impacto imediato. Marcos se encaixa no perfil de quem conhece o ambiente, entende a cobrança da Vila Belmiro e já provou que decide jogos. Em mercado, isso pesa.

É impossível separar o presente do que ficou para trás. O atraso no CT virou cicatriz — e lembrança. Nas entrevistas, Marcos escolhe um tom que busca fechar o ciclo: admite o erro, sublinha o aprendizado e vira a página com desempenho. Para a torcida, ouvir do próprio jogador que ele reconhece a falha ajuda a ressignificar aquele fim de ano, ainda que não apague a decepção do rebaixamento. Reconciliações no futebol, quando acontecem, nascem assim: de uma honestidade pública somada a atuações que sustentam as palavras.

Em termos esportivos, a trajetória recente do atacante oferece pistas. Ele raramente some dos jogos, participa da construção e aparece na área para finalizar. A leitura de jogadas laterais é um diferencial, assim como a frieza em bolas rasteiras cruzadas. Em times que atacam por fora, isso vira ouro. No Al-Hilal, a combinação de amplitude pelos lados com passes curtos no terço final criou um cenário perfeito para seus movimentos.

Há também o componente mental. Jogadores que enfrentam um rebaixamento carregam marcas que podem paralisar ou impulsionar. No caso de Marcos, a resposta parece ter sido transformar a frustração em combustível. Falar abertamente sobre a indisciplina de 2023 indica que o caso foi digerido. É um passo. O outro é manter desempenho alto por tempo consistente — o tipo de constância que constrói carreira longa.

Se a volta ao Santos vai acontecer? Ainda não há negociação pública. Mas o fato de o atacante ventilar a ideia muda o ambiente. Em vestiários, essas frases circulam. Em conselhos administrativos, viram pauta. Para a torcida, alimentam a imaginação: ver um jogador formado em casa, agora mais maduro, vestir de novo a camisa pode ser um capítulo de reparo esportivo e simbólico.

Enquanto isso, o caso de 2023 segue servindo de alerta sobre gestão de elenco em períodos de pressão. Códigos claros, comunicação direta e coerência nas punições ajudam a evitar que problemas pontuais virem crises duradouras. Para o atleta, a regra é simples: em semanas decisivas, a disciplina fora de campo decide tanto quanto a bola que entra no ângulo.

Marcos Leonardo está em outra fase, com números e confiança do lado dele. O passado recente, com seus tropeços, faz parte da história — e pode até ser o motor do próximo passo. Se a oportunidade de retorno ao clube que o revelou surgir, ele chegará com mais casca, mais repertório e uma frase pronta para o espelho do vestiário: errar, aprendi; repetir, não.